Trump impõe tarifa de 50% sobre produtos brasileiros e usa julgamento de Bolsonaro como justificativa



Em um movimento que elevou a tensão diplomática entre Brasil e Estados Unidos a um nível inédito, o presidente americano Donald Trump anunciou nesta quarta-feira (9) a aplicação de uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros exportados aos EUA. A medida, que entrará em vigor em 1º de agosto, foi formalizada por meio de uma carta enviada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e divulgada nas redes sociais.

Na correspondência, Trump alega que a decisão tem como base “ataques do Brasil às eleições livres e à liberdade de expressão de cidadãos americanos”, em referência a decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre regulação de plataformas digitais e ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro. Trump classificou o processo judicial contra Bolsonaro como uma “vergonha internacional” e uma “caça às bruxas”.

Segundo o ex-presidente americano, produtos brasileiros que tentarem driblar a nova barreira tarifária via exportações trianguladas por outros mercados também serão taxados com valores ainda maiores.

A reação do governo brasileiro foi imediata. O presidente Lula convocou uma reunião de emergência com o chanceler Mauro Vieira e membros do alto escalão, e, segundo apurou o UOL, avalia medidas diplomáticas, incluindo a possibilidade de convocar a embaixadora do Brasil em Washington.
Choque comercial sem precedentes

A imposição da tarifa representa um ponto fora da curva nas relações comerciais entre os dois países. Mesmo durante a ditadura militar brasileira, entre 1964 e 1985, os EUA não chegaram a impor sanções econômicas ao Brasil, apesar das pressões por violações de direitos humanos.

Especialistas apontam que a medida fere normas do comércio internacional. Contudo, com o esvaziamento da Organização Mundial do Comércio (OMC) nos últimos anos, o Brasil não teria instrumentos eficazes para contestar formalmente a decisão americana no curto prazo.
Retórica política e ataque ao STF

Trump justificou as tarifas com críticas diretas ao Supremo Tribunal Federal brasileiro, acusando a Corte de impor “ordens de censura secretas e injustas” contra redes sociais dos EUA. Ele também responsabilizou o Brasil por dificultar a atuação de empresas americanas no comércio digital e instruiu o Escritório do Representante de Comércio dos Estados Unidos a abrir uma investigação formal com base na Seção 301 da legislação comercial americana — instrumento usado por Washington para justificar medidas unilaterais.

Apesar das alegações de Trump sobre déficits comerciais, dados recentes mostram que os EUA têm superávit com o Brasil. Informações da Câmara de Comércio Brasil-EUA indicam que cinco dos dez principais produtos brasileiros exportados para o mercado americano sofreram queda nas vendas nos últimos meses, enquanto os EUA registraram saldo positivo de US$ 1 bilhão na balança bilateral.
Tentativas frustradas de negociação

Antes do anúncio da tarifa de 50%, os governos de Brasil e EUA vinham mantendo conversas para evitar o agravamento do atrito. Em abril, Trump já havia estabelecido uma tarifa inicial de 10% para produtos brasileiros — a menor entre os mais de 180 países atingidos pelas novas políticas comerciais americanas.

Delegações dos dois países se reuniram por videoconferência na semana passada para tentar um acordo, que incluía a proposta brasileira de reduzir tarifas sobre o etanol americano, em troca de alívio para o açúcar brasileiro. A falta de resposta da Casa Branca selou o fracasso das tratativas.
Escalada diplomática

A decisão americana ocorre em meio à ofensiva global de Trump para redefinir a balança comercial dos EUA. Apenas nesta semana, o presidente republicano disparou cartas a pelo menos 25 países com ameaças tarifárias semelhantes. Analistas veem na medida contra o Brasil um gesto político de apoio a Bolsonaro e um recado ao eleitorado ultraconservador.

No encerramento de sua carta, Trump sugere que as tarifas poderão ser revistas, “para cima ou para baixo”, dependendo da postura do Brasil, e promete facilidades para empresas brasileiras que decidirem produzir nos Estados Unidos.

Enquanto a retórica de Washington endurece, Brasília se vê diante de um dilema: recuar diante da pressão americana ou adotar contramedidas em defesa da soberania nacional e das instituições democráticas brasileira

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